Carla Rebelo (PRT), Francisco Vidal (ANG), Jorge Maciel (PRT), Márcio Carvalho (PRT), Sónia Godinho (PRT)
Num questionário informal sobre memória levado a cabo em 1980 pelos investigadores norte-americanos Elizabeth e Geoffrey Loftus, 84% dos 169 cientistas inquiridos respondeu acreditar que todos os acontecimentos vividos são permanentemente registados inconscientemente no nosso cérebro.
Este estudo é o ponto de partida da exposição Hipermnésia. Esta perturbação da memória é uma condição de processamento anormal da memória autobiográfica. Primeiramente identificada por Clive Ballard (1913), mas não considerada como um fenómeno mental até aos anos 70 quando Erdelyi e a sua equipa de investigadores aprofundaram os estudos neurológicos. Investigações complementares concluíram que um paciente com diagnóstico de hipermnésia vê desabilitada a sua faculdade de interpretar. Situação que perturba o processo normal de registo de novas experiências devido à permanente atualização de acontecimentos passados. Um paciente com este diagnóstico não tem um presente nem muito menos consegue estruturar um pensamento sobre um futuro. Só reconhece as pessoas que viveram e experienciaram acontecimentos passados com ele.
O tema da memória é transversalmente aplicado por cada um dos seis artistas plásticos integrados neste projeto curatorial de Jorge Reis: Carla Rebelo, Francisco Vidal, Jorge Maciel, Márcio Carvalho e Sónia Godinho. O critério que presidiu à seleção das obras que integram esta exposição sobre hipermnésia, é apoiado na ideia de multidisciplinaridade da praxis artística como ferramenta de pensamento sobre o tema.
Cada artista mostra uma preocupação singular inserida no universo da memória que se aproxima ao tema principal: memória autobiográfica, coletiva e histórica, memória do lugar, mística, construída, inconsciente, e a memória do objeto. Os temas são expressados através do desenho, da escultura, fotografia, instalação, pintura, do vídeo e do som. Carla Rebelo mostra um vídeo que apela à memória do espaço e do lugar onde este surgiu. A artista recorre a factos verídicos de pessoas que deixaram vestígios e relatos escritos sobre a sua passagem, mas também de outras que acompanharam o surgimento daquela arquitetura agora esquecida. Jorge Maciel apresenta uma instalação imersiva sítio específica com elementos de interação que apelam à memória do visitante transportando-o para momentos vividos, mas também, para o reconhecimento de alguns objetos que a compõe, para, desta forma, apelar à memória dos mesmos, enquadrando-os numa linha temporal. Francisco Vidal mostra uma série de pinturas e desenhos que retratam 511 pessoas que se cruzaram na sua carreira até aos dias de hoje. Trata-se de um trabalho sobre memória autobiográfica. Márcio Carvalho, recorre à prossecução de uma série de fotografias que intitula de memórias involuntárias. Carvalho apresenta uma abordagem inédita nesta série com a inclusão de novos elementos e novas fotografias. Sónia Godinho mostra trabalhos inéditos de desenho que merecem uma contemplação mais demorada pela complexidade e pela liquidificação das figuras e espaços/lugares que representa no mesmo plano.
Esta exposição é também o motivo de inauguração da Underground Gallery 40, e que pretende ser uma plataforma para o reconhecimento da arte emergente, sobretudo a portuguesa. A EMERGE — Associação Cultural é a entidade promotora que programa este espaço de arte contemporânea, também responsável pela produção de todos os eventos públicos e privados que aqui se realizarem.
Numa relação da arte com a ciência, o programa de exposição terá uma série de conversas públicas intituladas ‘Lado a Lado’ com neurocientistas que se juntarão aos artistas participantes para um encontro durante a exposição, para falar sobre o tema a partir do trabalho que desenvolvem.